Pseudotumor Cerebral Associado ao Uso de Isotretinoína
A síndrome pseudotumor cerebral é caracterizada por hipertensão intracraniana (HIC) sem alargamento de ventrículos ou lesões estruturais em exames de imagem. É uma afecção incomum (incidência de 1 caso por 100.000 habitantes/ano) e pode ocorrer por uso de fármacos. Dentre as drogas utilizadas na clínica dermatológica, a isotretinoína é a mais prescrita dos retinoides, ocorrendo em 9% dos casos de pseudotumor cerebral.
Alertar sobre o risco de pseudotumor cerebral associado ao uso de isotretinoína.
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Paciente do sexo feminino, branca, 23 anos, buscou atendimento para tratamento de acne grau 3. Após resultado insatisfatório com tratamento tópico e sistêmico anterior, se optou pela terapêutica com isotretinoína oral. A dose-alvo foi calculada em 6240mg (120mg/kg), baseada no peso da paciente. Tratamento inciado em abril/2011 com 20mg/dia. Em dezembro do mesmo ano, foi aumentada a dose para 40mg/dia. No final de janeiro/2012, a paciente apresentou cefaléia occipital, vertigem, turvação visual e edema palpebral bilateral. Interrompeu o medicamento 3 semanas após o início do quadro, sem auxílio médico. Na semana seguinte, retornou à consulta e a hipótese de pseudotumor cerebral foi aventada. Após avaliação da neurologia e oftalmologia, foi verificado edema palpebral, conjuntival e papiledema grau 4 bilateral, com parâmetros normais pela campimetria computadorizada. Foram excluídas outras causas de HIC. Função renal e tireoideana normais. Suspendeu-se a isotretinoína, foi feita punção do líquido cefalorraquidiano (LCR) para alívio da cefaléia e receitou-se acetazolamina e prednisona, por persistência da visão turva. Após 1 mês, houve regressão total do quadro.
A isotretinoína é uma droga que induz HIC. A fisiopatogenia da HIC por uso de retinoides não está bem esclarecida, mas o produto final (ácido trans-retinoico) induz secreção de LCR e altera a composição das vilosidades aracnoides. O quadro clínico caracterizado por cefaleia; papiledema; perda visual insidiosa pode indicar síndrome do pseudotumor cerebral. O diagnóstico é feito a partir do preenchimento dos critérios diagnósticos, com investigação do uso de fármacos associados e exclusão de causa secundária. Não deve haver evidências de hidrocefalia, massa tumoral, lesão vascular ou estrutural ao exame de imagem, além de composição normal do LCR. Os pacientes em tratamento com retinóides orais e queixas de dores de cabeça ou sintomas visuais devem comunicar imediatamente o profissional médico responsável.
Pseudotumor; Hipertensão intracraniana; Isotreitinoína; Retinóides.
Clínica Médica
Universidade Federal do Amazonas - Amazonas - Brasil
Luana Oliveira Ramos, Thayana Machado Costa, Irma Csasznik, Luiza Pimenta Suman, Patrícia Bandeira de Melo