Miocardite secundária a Dengue
O acometimento cardíaco pela dengue é considerado raro e provavelmente é subdiagnosticado na prática clínica. A miocardite pode ocorrer por causas infecciosas ou não, sendo mais prevalente a forma secundária a infecção viral. Pode ser dividida em fase aguda (viremia, com perda de miócitos por necrose), subaguda (4º ao 14º dia, ocorrendo maior dano celular miocárdico) e crônica (15º ao 90º dia, caracterizando a deposição intensa de colágeno no interstício miocárdico com fibrose miocárdica evoluindo para dilatação, disfunção e insuficiência cardíaca).
Relatar um caso de miocardite por dengue em um hospital privado.
Avaliação de Prontuário Médico.
Paciente de 71 anos, masculino, procedente de São José dos Campos - SP, portador de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia e hipotireoidismo, em uso regular de medicações específicas. Admitido no pronto socorro com queixa de tosse há 15 dias, além de dispneia paroxística noturna e recentemente apresentando mal estar geral e mialgia. Ao exame físico destacava-se dispneia, edema de membros inferiores e hipotensão arterial. Exames: hemograma normal; Pro-BNP de 1300 pg/ml; gasometria arterial normal; enzimas cardíacas normais; RX de tórax com cardiomegalia e CT de tórax com linfonodomegalia hilar. ECG: ritmo sinusal, extrassístole ventricular isolada e alterações difusas da repolarização ventricular.
Nos primeiros 2 dias de internação evoluiu com febre, hipotensão, mialgia intensa e oligúria. Exames laboratoriais: CPK normal e hemograma com leucopenia e plaquetopenia discretas. O teste rápido da dengue (NS1) foi positivo. O ecocardiograma transtorácico mostrou cardiomiopatia dilatada com comprometimento sistólico de grau importante (fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 30%), disfunção diastólica do ventrículo esquerdoestágio III (padrão restritivo), refluxo valvar mitral de grau discreto e refluxo valvar tricúspide de grau moderado (pressão sistólica na artéria pulmonar de 73mmHg); a RNM do coração mostrou realce tardio multifocal com aumento de sinal, fechando assim o diagnóstico de miocardite em fase aguda, por dengue.
Evoluiu bem, com alta hospitalar após 20 dias e, conforme informações colhidas com seu médico assistente, o paciente está tendo evolução clínica muito satisfatória.
Apesar de raramente haver manifestações cardíacas específicas na dengue, a depressão da função miocárdica deve ser considerada sempre que houver instabilidade hemodinâmica.
Dengue, Insuficiência Cardíaca, Miocardite.
Clínica Médica
Instituto Policlin de Ensino e Pesquisa - São Paulo - Brasil
João Paulo Mota Figueiredo, Tatiana Siqueira Capucci, Felipe Moraes Costa Silva, Lucas Medeiros Araujo, João Manoel Theotonio dos Santos