Síndrome de Veia Cava Superior como manifestação inicial de Linfoma Não-Hodgkin − Relato de Caso
A síndrome de veia cava superior (SVCS) resulta de qualquer condição que leva à obstrução da drenagem venosa da cabeça, pescoço e extremidades superiores. Em 60% dos casos relaciona-se com doenças malignas, sendo que em apenas 4% aparece como manifestação inicial de linfoma não-Hodgkin (LNH).
Descrever um caso de síndrome de veia cava superior como primeira manifestação de um LNH.
Foram coletados dados de uma paciente com Síndrome de Veia Cava Superior, obtidos através de prontuários e seguimento
Paciente feminina, 58 anos, hipertensa, com insuficiência venosa em membros inferiores e tabagista 12 maços/anos. Iniciou um ano antes da admissão hospitalar com dispneia e tosse seca. Nas duas semanas prévias à internação teve piora respiratória associada à sudorese, febre, cefaleia e fraqueza nos membros superiores. Em paralelo, notou um edema em face e região cervical. Com a evolução para dispneia aos mínimos esforços e ortopneia procurou a assistência médica. Na admissão estava taquidispneica, tórax com pletora, circulação colateral e telangiectasias, linfonodomegalia na região supraclavicular esquerda (2cm, móvel, doloroso) e direita (1cm) e ausculta pulmonar com estertores e sibilos. Teve melhora do quadro após medidas para broncoespasmo. Em vista da apresentação caracterizar uma Síndrome de Veia Cava Superior iniciou-se a investigação etiológica. A tomografia de tórax evidenciou linfonodos cervicais e inúmeros linfonodos mediastinais em bloco provocando compressão da veia cava superior. Na biopsia do linfonodo supraclavicular, o resultado foi compatível com Linfoma não-Hodgkin. O edema proveniente da obstrução venosa já estava comprimindo a via aérea quando, pela gravidade do quadro, foi iniciado corticoide e quimioterapia. O laudo de imunohistoquímica descreveu neoplasia de linhagem linfohematopoiética, podendo corresponder a linfoma linfoblástico de células T (Ki-67, CD45 e CD43 positivo).
A maioria dos LNH causam a SVCS por compressão extrínseca devido ao aumento dos gânglios linfáticos. Os achados mais frequentes são o edema em face e pescoço (82%), edema da extremidade superior (68%), dispneia (66%), tosse (50%) e dilatação dos vasos superficiais do tórax (38%). As massas mediastinais constituem um desafio diagnóstico pouco frequente estando associadas à investigação tardia e mau prognóstico. Ressalta-se que a familiaridade com a semiologia da síndrome proporciona a identificação e intervenção precoces podendo mudar esse desfecho.
Linfoma não-Hodgkin, Síndrome de veia cava superior, Linfoma linfoblástico de células T.
Clínica Médica
Hospital Heliópolis - São Paulo - Brasil
Zuan Patricia Copana-Olmos, Maysa Tamara Silveira, Camila Soares Araujo, Marcel Luiz Brunetto, Lourdes Marangoni Gualdani