RELATO DE CASO: CRISE TIREOTÓXICA ASSOCIADA À ÚLCERA PÉPTICA.
Crise Tireotóxica (CT) constitui emergência relacionada à exacerbação aguda do estado hipertireóideo em pacientes inadequadamente tratados, que cessaram medicamentos ou submeteram-se à cirurgia. Apesar da prevalência de 1% dos indivíduos hospitalizados com hipertireoidismo, é potencialmente fatal se não diagnosticada rapidamente, atingindo mortalidade de 16 a 30%.
Relatar caso de CT associada a abdômen agudo.
Foram coletados dados dos prontuários e seguimento
MLPC, 59 anos, feminino,antecedente pessoal de hipertireoidismo há 8 anos, em tratamento irregular há 1 ano com metimazol 60mg/dia,que foi interrompido há 1 semana e tabagismo (24 maços-ano). Procurou Emergência por aumento de volume abdominal há 1 mês, associado a diarréia, náuseas e edema de MMII, pior há 20 dias. Referia ansiedade, labilidade emocional, dispnéia aos médios esforços, ortopnéia e DPN há 3 meses.Exame de admissão:afebril, PA 110/74 mmHg, FC 148 bpm,FR 36 ipm. À ausculta, creptos bibasais e ritmo cardíaco irregula r. Turgência jugular patológica. Abdome semi-globoso, RHA normoativos, flácido, doloroso à palpação profunda difusamente, sem sinais de peritonite, fígado palpável 6cm. Edema de MMII 2+/4+.Exames complementares: Hb 10,8mg/dL, FA 554 U/L, GGT 139 U/L, BT 2,8 mg/dL, BD 0,9 mg/dL, TSH 0,07 µUI/mL e T4 livre 2,42 ng/dL. Demais exames dentro dos valores da normalidade. ECG com fibrilação atrial. USG de abdômen:fígado aumentado, vesícula biliar sem alterações, moderada ascite. Com base em achados clínicos e Critérios de Burchand Watofsy, considerou-se diagnóstico de CT, sendo iniciado tratamento com solução saturada de iodo, metimazol, propanolol e hidrocortisona. Após 48 horas, evoluiu com dor abdominal difusa, apresentando ao exame físico abdome hipertimpânico, doloroso à palpação difusamente, com sinal de descompressão brusca. Realizado USG à beira do leito, que evidenciou líquido na cavidade abdominal. RX de abdômen em decúbito lateral e TC de abdômen sem contraste com imagem sugestiva de pneumoperitôneo e líquido livre na cavidade. Realizou laparotomia exploratória, com ráfia de úlcera gástrica pré-pilórica perfurada, drenagem peritoneal e biópsia de lesão. Evoluiu com sepse grave de foco abdominal, indo a óbito após 82 dias.
Úlcera péptica em pacientes com CT é extremamente rara. Distinguir sintomas da CT de comorbidades associadas muitas vezes é um desafio. Devido à alta mortalidade, o reconhecimento de um abdome agudo em pacientes com CT é fundamental para tratamento imediato.
Hipertireoidismo, úlcera péptica, abdômen agudo
Clínica Médica
Hospital Heliópolis - São Paulo - Brasil
Camila Soares Araujo, Maria Conceição Oliveira Carneiro Mamone, Zuan Patricia Copana-Olmos, Paula Roberta Rocha Rodrigues, Larice Oliveira Santana