Complicação rara do uso de anticoagulação oral: relato de caso de hematoma extradural raquidiano espontâneo com compressão medular cervical e tetraparesia
Hematoma extradural raquidiano é uma emergência neurocirúrgica, sendo causa rara de síndrome de compressão medular, geralmente de instalação aguda ou subaguda. Em alguns casos, pode se relacionar ao uso de anticoagulantes orais como a varfarina, um antagonista da vitamina K utilizado em vários cenários clínicos, que por possuir faixa terapêutica estreita e inúmeras interações alimentares e medicamentosas, tem uso desafior na prática clínica.
O medico deve estar atento e incluir o hematoma extradural espontâneo como parte do diagnóstico diferencial de cervicalgia aguda/ subaguda associada a déficit neurológico, principalmente em pacientes em anticoagulação ou com diáteses hemorrágicas. Também deve-se estar atento a orientação adequada dos pacientes quanto ao uso adequado da medicação e os riscos da não aderência.
Relatamos o caso de uma paciente em uso de varfarina acima da faixa terapêutica com hematoma extradural espontâneo após esforço leve.
Paciente feminina, 47 anos, portadora de Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAF) e Lupus Sistêmico provável em anticoagulação oral com varfarina com quadro de uma semana de evolução de dor cervical com irradiação à direita, retenção urinária e fraqueza em membros, de evolução progressiva após leve esforço físico (levantamento de peso). Ao exame, tetraparesia flácida hiporreflexa, pior à direita. Ressonância magnética da coluna cervical demonstra coleção extradural se estendendo no interior do canal medular de C6-T1, com compressão medular maior à direita e hiperssinal em T1, compatível com hematoma. Coagulograma alterado, com Razão Normalizada Internacional (INR) incoagulável. A paciente foi submetida à laminectomia de C6-C7 com drenagem do hematoma de C6-T1 e evolução pós-operatória favorável.
A neuroimagem confirma o diagnóstico, com preferência para a ressonância, que mostra coágulo isointenso em T1 e hiperintenso em T2 nas primeiras 24 horas e hiperintenso em T1 e T2 após esse período. O tratamento envolve drenagem cirúrgica de urgência, com diagnóstico e tratamento precoces de fundamental importância para recuperação funcional.
Os pacientes anticoagulados devem ser orientados quanto à importância de realizar o coagulagrama frequentemente, além de manter regularidade dietética e reportar ao médico a introdução de novas medicações. Tais medidas visam minorar o risco de complicações hemorrágicas, que indicam necessidade de atendimento médico imediato.
varfarina, hematoma extradural raquidiano, acidente cumarínico
Clínica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
Carolina Dias Gonçalves, Maria Clara Borges de Andrade, Rachid Amado de Brito Montenegro, Luis Filipe Azevedo de Carvalho, Livia Itajahy de Oliveira de Souza