INJÚRIA RENAL AGUDA PROVOCADA POR ACIDENTE BOTRÓPICO: RELATO DE CASO
Acidentes com serpentes do gênero Bothrops sp são os de maior prevalência no Brasil e a Injúria Renal Aguda (IRA) é uma complicação que pode ocorrer em 2 a 10% dos casos.
Relatar um caso de IRA provocada por acidente botrópico
Relato de caso atendido em um Centro de Informação Toxicológica (CIT)
Paciente feminina, 60 anos, picada por animal desconhecido, procurou atendimento médico apenas 24h após acidente com: vômitos, dor e edema discreto no local da picada. Realizado apenas tratamento sintomático e hidratação endovenosa. Paciente previamente hipertensa e diabética. Cerca de 40h após, o médico assistente faz contato com CIT da região que, de acordo com história, levantou a hipótese de acidente botrópico orientando avaliação dos exames da coagulação e função renal. Resultados do TP e TTPA incoaguláveis, plaquetas (Plaq) 55.000/mm³, Creatinina (Cr) de 4,39 mg/dL. Paciente transferida para o hospital de referência para receber tratamento específico com soro antiveneno. Chegou ao hospital com hematúria e dor discreta no local da picada. Recebeu 8 ampolas de soro antibotrópico (SAB) cerca de 50h após a picada. Os exames de 12h após o SAB apresentavam uma recuperação da coagulação, mas uma piora da função renal, TAP 54%, Plaq 40.000/mm³, Cr 6,3 mg/dL. Exames de 24h: TAP 84,46%, Plaq 32.000/mm³ e Cr 6,9 mg/dL. Somente 72h após o SAB, com piora progressiva da função renal (Cr 8,5 mg/dL), foi iniciada a hemodiálise. Realizadas 7 sessões de hemodiálise durante a internação, evoluindo com melhora clínica e laboratorial. Recebeu alta após 26 dias com Cr de 1,8 mg/dL e acompanhamento ambulatorial.
A IRA é a causa mais frequente de morte nos pacientes que sobrevivem aos efeitos da peçonha. Sua gênese, no acidente botrópico, é multifatorial tanto por ação direta do veneno nos túbulos renais quanto por alterações hemodinâmicas renais. O tratamento preventivo da IRA e de outras injúrias sistêmicas é a administração precoce do SAB e a hidratação adequada do paciente. Neste caso relatado, além da demora no diagnóstico e do tratamento específico, as comorbidades da paciente podem ter contribuído para o agravo do quadro. Não foi possível determinar o grau de lesão renal prévia ao acidente, entretanto, a progressão aguda, vide evolução clínico/laboratorial, sugere alta relação com o veneno. Os serviços de emergência tem ao seu dispor os Centros de Informação Toxicológica para discussão do diagnóstico e tratamento precoce em qualquer suspeita de acidente por animal peçonhento.
Clínica Médica
Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina–CIT/SC - Santa Catarina - Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Santa Catarina - Brasil
José Fernando Sens Junior, Bruno Nahorny Ferreira, Cinthia Kunze Rodrigues, Marlene Zannin