Cessação do tabagismo em pacientes internados em um hospital universitário no sul do Brasil: seguimento de até 180 dias após a alta
O Tabagismo é uma doença crônica e constitui a maior causa evitável de mortalidade. A hospitalização é uma oportunidade para abordagem do tabagista, porém os efeitos das intervenções nesta população são pouco conhecidos.
Avaliar a taxa de cessação do tabagismo e estágio motivacional em até 180 dias após a alta de pacientes hospitalizados.
86 tabagistas foram avaliados quanto aos dados demográficos, socioeconômicos e características do tabagismo. Pacientes foram entrevistados, abordados e acompanhados durante a internação e após a alta. O tratamento constituiu-se em uma entrevista motivacional seguida por terapia comportamental semanal de acordo com Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), com tratamento medicamentoso, quando indicado, associada a um reforço de aconselhamento breve, na mesma semana de hospitalização. Na alta, foram encaminhados para o grupo de cessação e foram avaliados, através de contatos telefônicos após 15, 30, 45 dias e 180 dias, quanto a: taxa de cessação, síndrome de abstinência, acesso ao tratamento e alterações no estágio motivacional.
A maioria (52,3%) dos pacientes era masculino, com média de idade de 52 anos e com até 8 anos de escolaridade (69,8%). A maior parte iniciou o tabagismo aos 15 anos, fumava cerca de 20 cigarros por dia, com carga tabágica mediana de 39,5 maços-ano. Cerca de 70% apresentava alta ou muito alta dependência à nicotina, com média de 2 tentativas prévias de cessação. A maioria (70%) era exposta ao tabagismo passivo. A taxa cessação do tabagismo foi de 86,7% (72/83) no momento da alta, 73,6% (56/80) em 15 dias da alta hospitalar, 63,5% (49/75) após 30 dias, 68,5% (50/73) após 45 dias e 55,6% (36/63) após 180 dias da alta da alta. Apresentava sintomas da síndrome de abstinência 31,4% dos pacientes. Apenas 17,5% tiveram acesso ao PNCT. No momento da hospitalização, o estágio motivacional mais prevalente foi ação (72%); ao final dos 180 dias, 55,6% em manutenção. A maioria (86%) dos pacientes utilizou terapia de reposição nicotínica durante a internação.
A abordagem do tabagismo durante hospitalização e o seu acompanhamento após a alta resultaram em elevada taxa de cessação. Os bons resultados podem ser devidos aos reforços de aconselhamentos na mesma semana associados aos frequentes contatos telefônicos neste período crítico do processo de cessação. O acesso facilitado ao PNCT e maior controle da exposição passiva poderiam otimizar os resultados.
Tabagismo, Programa Nacional de Controle do Tabagismo, Hospitalização.
Clínica Médica
Karolinny Borinelli de Aquino Moura, Mariangela Pimentel Pincelli, Ana Karoline Bittencourt Alves, Manoela Bittencourt da Silva, Leila John Marques Steidle