Relato de Caso: Manejo primário do trauma ocular penetrante por arma de fogo em pronto-atendimento não especializado: Um desafio ao clinico geral?
Introdução: O trauma ocular não deixa de pertencer à clínica médica, pois geralmente o primeiro atendimento é realizado por um clínico geral em um pronto-atendimento não especializado, e quando feito corretamente, torna-se um diferencial para o prognóstico da lesão.
Objetivo: Relatar um caso incomum de lesão ocular penetrante por arma de fogo, cujo primeiro atendimento ocorreu em serviço não especializado através de um médico clínico geral.
Metodologia: Revisão de prontuário e pesquisa bibliográfica nas bases de dados MEDLINE, LILACS, SciELO, MD Consult, comprovando ser o segundo relato de caso no Brasil cujo trauma ocular por arma de fogo não apresentou envolvimento ósseo orbitário, bem como escassez da literatura científica quanto à abordagem do tratamento primário em serviços não especializados.
Descrição do caso: J.T.T, 29 anos, masculino, compareceu a um pronto-atendimento geral de Cuiabá com quadro de dor súbita em olho esquerdo 15 minutos após ser atingido por projétil de arma de fogo, ao exame evidenciava-se baixa percepção da luz em olho esquerdo, pálpebra com equimose, edema, ptose, ausência de lacerações e durante sua avalição por debaixo, percebeu-se olho hipotônico – presença de hiposfagma denso assim como edema conjuntival. Olho direito normal. Foi realizada tomografia computadorizada (TC), evidenciando artefato metálico de 1,8 cm na região anterosuperomedial da órbita esquerda e globo ocular ipsilateral irregular, e ausência de fratura cavidade orbitária.
Considerações finais: O atendimento a vítima de lesão penetrante em aparelho visual pode parecer a primeira vista um desafio ao clínico geral, entretanto, é possível determinar de acordo com achados no exame físico e de imagem, a necessidade da intervenção oftalmológica rápida, como no caso relatado: ruptura do globo ocular (identificado hipotonia ocular), baixa acuidade visual e corpo estranho intraocular, diminuindo o tempo de intervenção cirúrgica; enquanto isso, o tratamento inicial da ruptura do globo ocular é a proteção do olho afetado evitando lesões adicionais, com curativo oclusivo não compressivo (copinho de café, por exemplo). Profilaxia antitetânica e antibioticoterapia sistêmica (vancomicina) devem ser realizados. Conclui-se então que os pacientes poderiam obter melhor prognóstico da lesão ocular quando medidas iniciais são realizadas por médicos generalistas bem preparados já que muitos hospitais não possuem oftalmologistas de plantão.
Primeiro atendimento; trauma ocular; ferimentos por arma de fogo; corpos estranhos intra-oculares; relato de caso.
Clínica Médica
Thiago Potrich Rodrigues, André Luiz Borba da Silva