Glomerulopatia por C3
Descrita pela primeira vez em 2007, a glomerulopatia por C3 é uma entidade rara, ainda pouco difundida e desmembrada da glomerulonefrite rapidamente progressiva há poucos anos. Classificada como doença glomerular mediada por complemento, trata-se da desregulação da via alterna do sistema complemento, levando à degradação e queda dos níveis séricos de C3, além de sua deposição nos glomérulos. O quadro clínico é diverso, e o diagnóstico é feito pelo exame de microscopia por imunofluorescência de uma amostra de biópsia renal associado a estudo da via complemento.
Evidenciar a importância da valorização de exames básicos, como o EAS, na investigação precoce das injúrias renais
Relato de caso/Estudo observacional
P.C.S. 53 anos, previamente hígido, dá entrada no HELGJ com edema de membros inferiores e face há duas semanas associado a diminuição do débito urinário. Relata herniorrafia há dois meses sem intercorrências, exceto por EAS pré operatório com proteinúria de 1+/4+. Exames de admissão mostram elevação importante das escórias nitrogenadas séricas- Creatinina 14mg/dl e uréia 236mg/dl - acompanhada por EAS com piúria, hematúria e proteinúria 1+/4+. Optado por hemodiálise de urgência e início de pulsoterapia com metilprednisolona 1g/dia por 05 dias. Durante internação apresentou elevação dos valores tensionais e instituída terapia anti-hipertensiva com Anlodipino 10mg 12/12h, Losartana 50mg 12/12h e Hidroclorotiazida 25mg pela manhã, controlando a pressão arterial. Realizado biópsia renal que evidencia glomerulonefrite de padrão membrano-proliferativo com crescentes, padrão de glomerulonefrite rapidamente progressiva, nefrite túbulo intersticial linfomononuclear com cilindros de neutrófilos e imunofluorescência com depósitos glomerulares de C3 e C1q e presença de cilindros de IgA e IgG, sugestivo de glomerulopatia imune-mediada. Alta hospitalar com acompanhamento ambulatorial, corticoterapia oral e terapia dialítica três vezes por semana.
O diagnóstico precoce desta patologia muda seu prognóstico, evitando a evolução para DRC e consequentemente, diminuindo sua morbimortalidade. O caso nos mostra um paciente que apresenta EAS com proteinúria há dois meses, no risco cirúrgico, porém esse resultado não foi alvo de discussão. Dessa forma, colocamos em evidência o quão importante é iniciarmos uma investigação precoce quanto à possível injúria renal quando nos deparamos com proteinúria, ainda que esta seja discreta no momento.
glomerulopatia C3, depósitos densos, glomerulonefrite rapidamente progressiva, injúria renal
Clínica Médica
maria paula almeida pereira lobo, david triani geraldo, maria clara paula rudolph, alexandre mitsuo mituiassu