Linfoma ósseo primário com múltiplas lesões osteolíticas vertebrais como causa de lombalgia inflamatória
Lombalgia de padrão inflamatório é uma queixa comum, e mais frequentemente causada pelas espondiloartrites, como espondilite anquilosante. As neoplasias e as infecções respondem por causas mais raras.
Relatar raro caso de lombalgia inflamatória secundária a neoplasia óssea rara.
Relato de caso.
Paciente masculino, 39 anos, iniciou há 3 anos com dor em região lombar, sem melhora com repouso. Foi inicialmente avaliado na cidade de origem com suspeita de hérnia discal lombar e vem desde então utilizando analgésicos e AINE. Evoluiu com piora clínica e extensão do quadro doloroso para a região dorsal, glútea e coxa esquerda. Refere episódio isolado de febre há 1 ano, e nos últimos 3 anos apresentou perda de peso de cerca de 20kg. Os exames laboratoriais mostraram HT 44,8% HB 15,1g/dl leuc 10.400mm³ segm 80% linf 14,2% mono 5% plaq 502mil, VHS 25mm 1ªh, PCR 54,58mg/l, fibrinogênio 420mg/dl, AST 69u/l, ALT 59u/l, ureia 63mg/dl, creat 1,8mg/dl, CEA 2,21ng/ml, PSA 1,26ng/ml, eletroforese de proteínas normal, cálcio iônico 5,6mg/dl, fósforo 4,7mg/dl, PTH inf 3pg/ml, parcial de urina normal. Os exames de imagem mostraram na TC e RM de coluna dorsal, lombar e bacia, múltiplas lesões osteolíticas em corpos vertebrais dorsais T3, T8, T9, T12 e L1, com colapsos parciais, segundo e sétimo arco costal esquerdo de aspecto expansivo, ossos ilíacos e fêmur esquerdo. A TC de tórax e abdômen não indicou aumento de linfonodos ou esplenomegalia. O mielograma e a biópsia de medula óssea não encontraram alterações. Uma biópsia óssea com agulha guiada por TC foi realizada no sétimo arco costal esquerdo, com imunohistoquímica, que mostrou tratar-se de linfoma não Hodgkin difuso de grandes células B. Durante a internação apresentou fratura patológica do fêmur esquerdo e necessitou de cirurgia de colocação de placa fixadora. Foi necessário a descompressão de canal lombar devido a compressão medular secundária à lesão expansiva da vértebra L1. O paciente foi tratado com esquema R-CHOP e recebeu alta com melhora parcial do quadro álgico.
Linfoma ósseo primário é raro, responsável por cerca de 7% dos tumores ósseos primários. As lesões ósseas possuem predileção pelas vértebras, ilíacos e ossos longos ricos em medula óssea, como no caso relatado. O principal tipo histológico, em acordo com este relato, é o linfoma de grandes células B. A raridade desta condição, seu curso indolente e a ausência de achados clássicos como febre e linfonodomegalia pode dificultar a suspeição clínica.
Clínica Médica
Marina Jesus Carmo, Marina Machado Pereira, Fernanda Vicente Costa, Ivanio Alves Pereira