Relato de caso: Oclusão aguda embólica de aorta abdominal distal
A oclusão aguda de aorta é um evento grave, que pode ser desencadeado por fibrilação atrial. O tratamento precoce pode atenuar as complicações da reperfusão.
Relatar o caso de uma paciente com oclusão aguda de aorta abdominal distal por grande êmbolo cardíaco, com rápido tratamento, evitando complicações severas da reperfusão.
Relato de caso.
M.J.N., sexo feminino, 69 anos, procedente de Ituverava-SP, internada para tratamento de insuficiência cardíaca descompensada. Os exames de admissão evidenciaram cardiomegalia e fibrilação atrial. No segundo dia de internação hospitalar manifestou paresia súbita das pernas, que evoluiu com dor intensa e frialdade distal, sem pulsos palpáveis em membros inferiores. A hipótese clínica de oclusão aguda embólica de aorta foi corroborada após a tomografia computadorizada afastar hipótese de dissecção de aorta. Após 3 horas do início dos sintomas a paciente foi submetida à exploração arterial com embolectomia à Fogarty bilateral e simultaneamente, via artérias femorais. Ao final do procedimento houve reaparecimento dos pulsos, exigindo fasciotomia em ambas as pernas devido à síndrome compartimental gerada pela reperfusão. Também, apresentou acidose metabólica (pH=7,1) e hipercalemia moderada (K=6,1 mEq/L) como consequências da síndrome de isquemia-reperfusão e foi encaminhada à unidade de terapia intensiva para pós-operatório imediato. Realizou-se hidratação com cristalóides e controle rigoroso de diurese (> 1ml/Kg/h), administração de manitol 20% (0,5g/kg/h por 3 horas), e infusão de bicarbonato de sódio 8,4% (2 mEq/kg em 4 horas), corrigindo os distúrbios e mantendo função renal adequada.
A oclusão embólica de aorta abdominal compreende cerca de 9% das embolias arteriais e leva à isquemia tecidual de enorme gravidade. A presença de fibrilação atrial com cardiomegalia pode ocasionar a formação de grande trombo capaz de ocluir a aorta. O prognóstico depende diretamente do tempo de isquemia, sendo importante, portanto, o diagnóstico precoce. O evento intra-hospitalar favoreceu a rapidez do atendimento, com salvamento dos membros e evitando-se graves complicações da síndrome de reperfusão, que além de hipercalemia e acidose metabólica pode cursar com insuficiência renal aguda, síndrome da resposta inflamatória sistêmica, arritmias e morte. Por vezes a amputação primária é necessária para evitar-se a reperfusão e óbito.
isquemia-reperfusão, oclusão arterial
Clínica Médica
Santa Casa de Misericórdia de Ituverava - São Paulo - Brasil
José Roberto Violatti Filho, Fernando Branco Prata Lóes, Luís Gustavo Campos Da Silva