Endoftalmite endógena associada a abscesso hepático: relato de caso
Endoftalmite endógena é a inflamação intraocular bacteriana ou fúngica causada por disseminação hematogênica, mais comumente originada de abscesso hepático ou endocardite infecciosa. As condições predisponentes são diabetes mellitus e uso de drogas injetáveis. É uma doença rara, mas com prognóstico visual reservado e é de extrema importância o diagnóstico rápido e a abordagem cirúrgica intravítrea precoce.
Relatar um caso em que ocorreu a associação entre endoftalmite e abscesso hepático e a evolução após a terapêutica instituída.
Relato de caso.
B, masculino, portador de diabetes mellitus tipo 2 com controle glicêmico inadequado, iniciou quadro de dor em hipocôndrio direito e vômitos persistentes, evoluindo após 10 dias com dor ocular à esquerda de forte intensidade associada a hiperemia conjuntival e amaurose. Procura atendimento dois dias após início de sintomas oculares, onde é avaliado por oftalmologista que faz hipótese de uveíte posterior ou endoftalmite endógena. Paciente é internado para investigação. Além das alterações oculares, apresentava dor à palpação de hipocôndrio direito, palpando-se o fígado a 5cm do rebordo costal. A avaliação laboratorial demonstrava aumento de transaminases, glicemia capilar alterada e leucocitose discreta. Realizado ecocardiograma sem alterações, TC de órbitas que evidenciou edema periorbitário com discreto realce intraocular à esquerda, sem massas ou sinais de infiltração local, e ultrassonografia abdominal que evidenciou abscesso hepático no segmento VI, medindo 9,0x7,0cm. Iniciada antibioticoterapia com ceftriaxone e metronidazol; puncionado abscesso hepático para drenagem e coleta de material para cultura, cujo resultado foi negativo. Abordado pela equipe da oftalmologia com antibioticoterapia intravitrea no 5º dia de internação. Evoluiu com melhora dos sintomas oculares, porém mantendo amaurose definitiva do olho acometido. Evoluiu com resolução do abscesso hepático. Realizada colonoscopia para investigação de foco primário de abscesso hepático, sem alterações. Continua seguimento ambulatorial para controle do DM2 e, na evolução desenvolveu a síndrome do olho cego doloroso.
Apesar de ser rara, é importante considerar a endoftalmite no diagnóstico diferencial das uveítes, já que a abordagem precoce interfere no prognóstico ocular; além de pesquisar foco primário de disseminação hematogênica, principalmente abscesso hepático e endocardite infecciosa.
endoftalmite endógena; abscesso hepático;
Clínica Médica
UNICAMP - São Paulo - Brasil
MARCELO GUSTAVO LOPES, FERNANDO SALVETTI VALENTE, THIAGO JUNQUEIRA TREVISAN, DANIELA MITI LEMOS TSUKUMO, CRISTINA ALBA LALLI