Miocardiopatia periparto: um relato de caso
A miocardiopatia periparto (MCPP) é uma causa rara de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) sendo sua etiologia incerta. Acomete mulheres do final da gestação até o quinto mês do puerpério, sendo que a disfunção ventricular ocorre mesmo sem antecedente de cardiopatia e em mulheres previamente saudáveis.
Relatar o caso de uma paciente jovem diagnosticada com miocardiopatia periparto e aumentar o índice de suspeição desta condição rara porém potencialmente grave.
Estudo qualitativo, fenomenológico, relato de caso
Mulher parda com 16 anos de idade, previamente hígida, eutrófica e primigesta com 36 semanas de gestação, iniciou queixa de dispnéia apresentando evolução do quadro com edema pulmonar agudo. Procedeu-se a realização de parto cesáreo sem intercorrências e a paciente recebeu alta hospitalar 5 dias depois. No mesmo dia da alta a paciente retornou com quadro de cefaléia associado à dispnéia e elevação de pressão arterial. Ao exame físico apresentava-se em regular estado geral, taquicárdica, pressão arterial (PA) de 170x120 milímetros de mercúrio, freqüência respiratória de 24 incursões por minuto, batimento de asa de nariz, edema em membros inferiores 3+/4+ e ausculta pulmonar revelando estertores e sibilos bilaterais. Procedeu-se a internação da paciente, com solicitação de parecer da clínica médica, medidas de suporte, controle de PA, solicitação de exames laboratoriais e radiografia de tórax. Os resultados de rotina laboratorial e radiografia não demonstraram alterações significantes e a paciente manteve-se taquicárdica, hipertensa e com edema importante em membros inferiores. Optou-se pela realização de ecocardiograma revelando miocardiopatia dilatada do ventrículo esquerdo com leve a moderada dilatação da câmara, disfunção diastólica grau 2 e déficit sistólico global de grau moderado, dilatação de grau moderado do AE, refluxo valvar mitral de grau moderado a severo, refluxo valvar aórtico mínimo e hipertensão pulmonar. Foi realizado ajuste da medicação com introdução de drogas para insuficiência cardíaca. A paciente evoluiu bem, com posterior regularização da PA e recebeu alta após 19 dias.
A miocardiopatia periparto é uma condição rara que pode ter desfechos graves quando não diagnosticada e tratada adequadamente. O diagnóstico precoce e a pronta instituição do tratamento são indispensáveis para a normalização da função ventricular. Relatos de caso podem aumentar o índice de suspeição clínica favorecendo o prognóstico dessas pacientes .
miocardiopatia; miocardiopatia periparto; insuficiência cardíaca congestiva.
Clínica Médica
Mateus Oliveira de Souza, Vinicius Danieli Scarioti, Luiz Augusto Garcia, Priscila Soranzo Zappelini, Arthur Henrique Silva