Abscessos hepáticos secundários à endocardite infecciosa: relato de caso
Introdução: Apesar de a endocardite bacteriana manifestar-se muitas vezes com acometimento multissistêmico, abscessos hepáticos piogênicos são uma complicação bastante incomum, tornando-se ainda mais rara quando encontrada trombose de veia porta associada.
Objetivo: Relatar um caso de abscessos hepáticos secundários à endocardite infecciosa.
Métodos: Informações obtidas pelo prontuário, entrevista com o paciente e revisão de literatura.
Relato de caso: Homem de 66 anos, hipertenso, em uso de Captopril e Hidroclorotiazida, foi submetido ao HMMKB com icterícia, colúria, febre, dor abdominal e vômitos há 20 dias. Com o início da investigação foi realizada uma ultrassonografia (US) de abdômen que evidenciou colelitíase, trombose de veia porta, hepatomegalia e múltiplas lesões hepáticas mal definidas. À tomografia (TC) verificaram-se múltiplos nódulos hepáticos. Diante dos achados prosseguiu-se a investigação com uma endoscopia digestiva alta (EDA) que identificou varizes de esôfago e também com uma colonoscopia que mostrou varizes retais. Na ressonância magnética (RM) foram evidenciadas múltiplas lesões hepáticas heterogêneas com áreas de necrose central, comprometendo difusamente o parênquima hepático. Diante das imagens duas hipóteses definiram o seguimento do caso: lesões neoplásicas secundárias ou abscessos hepáticos com pileflebite associada, sendo iniciada antibioticoterapia empírica com Ciprofloxacino e Metronidazol e com boa resposta. Após 27 dias de uso dos antibióticos, foi solicitada uma colangiorressonância que demonstrou redução no número e dimensões das lesões hepáticas. Apesar da boa evolução clínica do paciente, não havia um foco infeccioso e as hemoculturas foram todas negativas. Na procura do foco o paciente realizou um ecocardiograma que evidenciou uma vegetação de 9 mm em válvula aórtica compatível com endocardite bacteriana. Com o diagnóstico, optou-se por tratamento com esquema de Ampicilina + Sulbactam + Oxacilina por 6 semanas. Ao término do tratamento o paciente apresentava-se totalmente assintomático, recebendo alta com a recomendação de acompanhamento ambulatorial.
Discussão: É importante a avaliação de diagnósticos diferenciais para casos que possam apresentar um prognóstico ruim. Em um paciente que apresenta uma síndrome colestática febril e imagens sugestivas de abcessos hepáticos, infecção da via biliar é uma importante hipótese diagnóstica. Nos casos em que o foco infeccioso é desconhecido, endocardite sempre deve ser lembrada.
Palavras-chave: Endocardite; fígado; abscesso hepático; veia porta
Clínica Médica
Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen - Santa Catarina - Brasil, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) - Santa Catarina - Brasil
Maria Carolina Casa Souza, Fernanda Souza Hopf, Maria Luiza Bom-Ami Barros, Vitor Cangussu Teixeira Campos , Everson Fernando Malluta