Discrepância entre teste ergométrico e cintilografia de perfusão miocárdica em atleta sexagenário
Atualmente, é comum na prática clínica solicitação de liberação médica para exercício físico em atletas, inclusive pacientes sexagenários. Sabe-se sobre a associação de coração de atleta com critérios eletrocardiográficos de voltagem sugestivos de sobrecarga ventricular esquerda. Tal achado eletrocardiográfico pode, muitas vezes, associar-se a inadequada interpretação de exames diagnósticos complementares.
Discorrer sobre discordância entre teste ergométrico e exame de perfusão miocárdica em paciente sexagenário com sobrecarga ventricular esquerda ao eletrocardiograma, considerando critérios de voltagem.
Revisado caso em prontuário do setor de cardiologia do esporte de serviço terciário de cardiologia do estado de São Paulo.
Trata-se de paciente masculino, 60 anos, ascendência oriental, esportista (corredor de 12km por dia, 5dias por semana) e sem história pessoal de comorbidades. Eletrocardiograma basal revelando bradicardia sinusal, padrão de repolarização precoce além de sobrecarga ventricular esquerda por voltagem. Durante investigação de dor torácica atípica foi submetido a teste ergométrico resultando em isquemia por critérios eletrocardiográficos devido a infradesnivelamento do segmento ST, tipo horizontal, de 2,0 mm no pico do esforço. Seguiu investigação sendo submetido a cintilografia de perfusão miocárdica com MIBI-99mTc associada ao esforço. O protocolo realizado foi Ellestad, 12 minutos de exercício, sendo o radiofármaco injetado na frequência cardíaca máxima preconizada; comportamento inotrópico e cronotrópico permaneceu dentro do esperado, havendo apenas raras e isoladas extrassístoles ventriculares e supraventriculares. Quanto a critérios isquêmicos, constatou-se infradesnivelamento do segmento ST, do tipo descendente, de 2,0 mm em II, III e aVF associado a supradesnivelamento de 1,0 mm em aVR. Não houve sintomas isquêmicos. Não houve alteração perfusional miocárdica em ambas as etapas com índices de fração de ejeção basal de 52% e após o estresse de 57%.
Alterações isquêmicas por critérios eletrocardiográficos podem ser justificadas pelo padrão de sobrecarga ventricular esquerda no eletrocardiograma basal, servindo a cintilografia de perfusão miocárdica como método complementar para afastar déficit perfusional verdadeiro, possibilitando liberação de atletas para a prática esportiva rotineira.
Atleta Cintilografia Teste ergométrico
Clínica Médica
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - São Paulo - Brasil
Mariane Regina da Silva Rocha, Luiz Augusto dos Santos Junior, Marcos Danillo Peixoto Oliveira, Luiz Mastrocolla, Paola Smanio