Distúrbios psiquiátricos menores em mulheres adultas do extremo Sul do Brasil: prevalência e fatores associados
A depressão será a 2ª causa de morbidade em 2020 e a mulher apresenta uma maior carga dessa doença. A prevalência varia ao longo do tempo e pode estar influenciada por aspectos diversos.
Verificar em um grupo de mulheres a prevalência dos transtornos psiquiátricos menores, relacionando com fatores sociais, econômicos e comportamentais.
Estudo transversal, realizado no Extremo Sul do Brasil em 2011. Foram entrevistadas todas mulheres com mais de 18 anos dos domicílios selecionados. O desfecho foi distúrbios psiquiátricos menores (DPM) avaliado com a aplicação do instrumento Self-Report Questionnaire (SRQ20) e ponto de corte 7/8. Foram analisadas variáveis sócio-demográficas, comportamentais e de saúde. Na análise estatística calculou-se a prevalência de DPM e o intervalo de confiança de 95% (IC95). Realizou-se a análise ajustada e um modelo hierárquico de análise.
No total 1595 mulheres responderam ao questionário (1,91% de perdas). A prevalência de DPM foi 21,76% (IC95 19,73-23,78). Esse valor é menor ao encontrado em município vizinho em 2002 (34%) e a diferença pode ser explicada porque o ponto de corte adotado para mulheres foi menor 6/7. Estudo realizado em 2000 como o mesmo instrumento e ponto de corte, com amostra similar e no mesmo município, revelou uma prevalência de DPM de 22%. Assim, ao contrário do que poderia se supor, não houve mudança no desfecho ao longo desse período de tempo. Entre os fatores associados e significativos encontrados no presente estudo, destaca-se o aumento linear da prevalência de DPM com a idade (chegando a 39% no grupo de maior idade). Também se observa uma relação inversa com a escolaridade (42% de redução nas mulheres com 2o grau completo) e a renda (até 43% de redução no grupo mais rico), indicando a existência de iniquidade. Há forte associação entre a falta de suporte social e a prevalência de DPM (130% a mais) e, ainda, entre a percepção de ter uma saúde ruim e o desfecho (160% maior) e entre a doença crônica e o desfecho (28% maior).
Notou-se prevalência elevada de DPM entre mulheres, que não teria aumentado nos últimos 11 anos, e que afeta mais aos grupos com menores condições socioeconômicas, mostrando uma iniquidade que merece atenção. Outros fatores associados foram o suporte social e a carga de morbidade referida, apontando para a importante relação entre capacidade de lidar com problemas e o estar doente com problemas psiquiátricos.
Distúrbios psiquiátricos; fatores de risco; prevalência.
Clínica Médica
Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande do Sul - Brasil
Valéri Pereira Camargo, Raúl Andrés Mendoza-Sassi, Renato Henrique Silva Nóbrega, Daniele Tailla Oliveira, Isabella Fonseca Silva