SARCOMA DE KAPOSI VULVAR: APRESENTAÇÃO RARA DE NEOPLASIA DEFINIDORA DE AIDS
O Sarcoma de Kaposi (SK) é uma neoplasia vascular que pode se apresentar de quatro formas: “clássica”, rara, acomete homens idosos, descendentes de judeus, europeus ou da região do mediterrâneo; “endêmica da África”, acomete jovens e crianças negras; “iatrogênica”, associada à imunodepressão induzida; e “epidêmica” ou HIV-relacionada, sendo a segunda neoplasia mais comum nesses casos, atingindo em sua maioria homens (50 a 100:1) na quarta década de vida. Sua apresentação clínica é altamente variável, sendo mais frequente o acometimento cutâneo, mas pode envolver mucosas, sistema linfático e vísceras.
No presente relato objetivamos descrever um caso de SK na forma epidêmica, em mulher, jovem, apresentando lesão em vulva. O caso se mostra relevante para descrição devido à baixa incidência de SK em mulheres, e pelo raro local de apresentação.
Relato de caso e revisão da literatura.
T.P.S., feminino, 26 anos, parda, procedente de Cuiabá-MT, HIV positivo há 8 anos, em TARV há 3 anos, uso regular há apenas 2 meses, CD4 da admissão: 45 células/mm³ e carga viral indetectável. Deu entrada no serviço de ginecologia com quadro de dor, prurido e múltiplas lesões papulares em grandes e pequenos lábios há 4 meses. Nesse período realizou tratamento para Herpes Vírus, sem melhora. As lesões evoluíram para ulcerações, múltiplas, de 2-3 cm de diâmetro, dolorosas, friáveis, com saída de secreção purulenta de odor fétido. Realizado antibioticoterapia endovenosa, devido infecção secundária, e posterior biópsia da lesão, que demonstrou resultado inespecífico. Optou-se por realização de nova biópsia com ampliação da amostra, a qual mostrou proliferação fusocelular dérmica, com discretas atipias e formação de espaços vasculares, com presença de hemácias e depósito de hemossiderina, podendo corresponder à neoplasia vascular. Realizado imunoistoquímica demonstrando neoplasia fusocelular revelando aspectos morfológicos que, associados à positividade para Vimentina, CD34 e CD31, favorecem o diagnóstico de SK.
A apresentação clínica do SK no paciente HIV é altamente variável. Apesar da incidência de SK epidêmico ser baixa em mulheres, e ser incomum o acometimento em vulva, essa condição deve ser considerada no diagnóstico diferencial de lesões vulvares em soropositivas, devendo-se efetuar biópsia da lesão para assegurar um diagnóstico.
Clínica Médica
Hospital Universitário Júlio Muller - Mato Grosso - Brasil
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