MALÁRIA EM VIAJANTE IMUNODEPRIMIDO
A malária (gênero Plasmodium, transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles) é uma arbovirose de extrema relevância no Brasil, tanto nas áreas endêmicas, quanto nas demais regiões. É uma das doenças febris que, obrigatoriamente, devem fazer parte do diagnóstico diferencial em pessoas que viajaram para áreas de risco.
Descrever um caso de malária em um brasileiro após retorno de viagem para o continente africano.
Relato de caso.
M.K.H., 40 anos, procura atendimento no Hospital Santa Cruz por febre alta, mialgia e dor abdominal 4 dias após retornar do Malawi. Já havia consultado em outro serviço, recebendo apenas sintomáticos. O paciente estava em regular estado geral, sendo indicada internação hospitalar para suporte. Devido à insuficiência renal e plaquetopenia, foi iniciado empiricamente antimicrobiano para o tratamento de leptospirose. A pesquisa de malária foi positiva, sendo iniciado artesunato e mefloquina. Pela instabilidade respiratória foi transferido para unidade de terapia intensiva (UTI), sendo necessária ventilação mecânica invasiva. A confirmação da microscopia determinou a presença de Plasmodium falciparum (200 parasitas/campo). Devido à gravidade clínica foi solicitada sorologia para HIV, sendo reagente (PCR HIV positivo). Evoluiu com instabilidade hemodinâmica, agravada com insuficiência hepática, renal e respiratória. O controle do tratamento após 7 dias foi positivo, sendo indicado novo ciclo. Recebeu alta com melhora clínica e acompanhamento nefrológico, devido à hemodiálise. Após 4 dias da alta hospitalar, reinterna devido a alteração de sensório, cefaleia e hipertensão arterial, sendo transferido para UTI. A tomografia de crânio demonstrou áreas de isquemia que evoluíram com transformação hemorrágica e morte encefálica em 24 horas. A causa do óbito não foi relacionada à malária. Nesta reinternação uma nova pesquisa de gota espessa foi negativa (confirmação em laboratório local e estadual). A descrição deste caso salienta a obrigatoriedade de atentar para exposição a agentes infecciosos durante viagens.
O desfecho desfavorável pode ser explicado pelas complicações clínicas durante a doença, a grande parasitemia e a co-infecção pelo HIV. Destaca-se a importância do aconselhamento de todos os viajantes sobre doenças infecciosas. A indicação de quimioprofilaxia para países endêmicos de malária tem indicação que deve ser individualizada, além das medidas de barreira.
Medicina de Viagem; Malária; Doenças febris
Clínica Médica
Universidade de Santa Cruz do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil
Mariana Almudi Souza, Roberta Finkler Dupont, Marcelo Carneiro, Ricardo Maraschim, Heloísa D‘Agustin Poli