Endocardite infecciosa no Lúpus Eritematoso Sistêmico: diagnóstico diferencial com endocardite de Libman-Sacks
A endocardite de Libman Sacks foi descrita inicialmente em 1924, caracteriza-se por vegetações estéreis nas válvulas cardíacas, geralmente acomete a válvula mitral e aórtica. É considerada manifestação cardíaca do lúpus eritematoso sistêmico, e também associada com síndrome do anticorpo antifosfolipide. Frequentemente é assintomática, mas pode ocorrer fragmentação das vegetações com embolia sistêmica e predisposição à endocardite infecciosa.
Caracterizar os quadros de endocardite de Libman Sacks e endocardite infecciosa, explicitando as principais diferenças para a definição diagnóstica dessas duas patologias semelhantes porém distintas.
Relato de Caso
Mulher, 24 anos, com antecedente de DRC dialítica secundário à LES há 2 anos, queixava-se de febre aferida associada a astenia há duas semanas. Negava cirurgias ou procedimentos dentários recentes, assim como uso de droga endovenosa, e realizava diálise através de fístula arteriovenosa há mais de um ano. Na admissão encontrava-se estável, com ausculta cardíaca de bulhas rítmicas normofonéticas regular com sopro sistólico ejetivo 3+/6 no foco mitral e 1+/6 no foco tricúspide. Ecocardiograma evidenciou aumento discreto do átrio esquerdo, fração de ejeção de 70%, valva mitral com vegetação relacionada ao folheto posterior em face atrial, insuficiência mitral importante e insuficiência tricúspide leve. Exames laboratoriais evidenciaram hemoglobina 9,9 g/dL; leucócitos 4,7 mil/uL com predomínio de 73,3% de neutrófilos segmentados; VHS 62 mm e PCR 1,4 mg/dL. Como não apresentava sinais e sintomas de atividade de doença lúpica, foi realizada hipótese diagnóstica de endocardite infecciosa, coletado hemoculturas e introduzido gentamicina e vancomicina ajustados para função renal. Paciente apresentou melhora clínica e recebeu alta após quatro semanas de tratamento. Ecocardiograma realizado após término do tratamento com resolução da vegetação.
Para realizar o diagnóstico diferencial entre EI e eLS podemos nos basear no quadro clínico, contagem leucocitária, níveis de PCR e de anticorpos antifosfolípides, características ecográficas e culturas. Porém, ainda assim, o diagnóstico diferencial pode ser desafiador em alguns casos, devendo o médico assistente avaliar individualmente as características de cada caso. Por tratar-se de patologia potencialmente grave, não é incomum a instituição de tratamento para ambos os diagnósticos quando não há certeza sobre a etiologia da doença.
Lupus Eritematoso Sistêmico Endocardite Infecciosa Endocardite de Libman Sacks
Clínica Médica
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - São Paulo - Brasil
Rodrigo Mendonça Paulino, Renata M Guazzelli