DIFICULDADE DIAGNÓSTICA NA AUSÊNCIA CONFIRMAÇÃO LABORATORIAL: TROMBOSE DE VEIA CAVA SUPERIOR EM PACIENTE ANTICOAGULADO COMO MANIFESTAÇÃO DA DOENÇA DE BEHÇET
A doença de Behçet (DB) acomete vasos de diversos calibres e tem diagnóstico exclusivo por critérios clínicos comumente não concomitantes. A trombose venosa é a principal complicação e a de Veia Cava Superior está presente em 6% dos casos.
Relatar caso de paciente internado na enfermaria de hospital terciário do interior paulista.
Relato descritivo retrospectivo por acesso a prontuário eletrônico.
Paciente masculino, 27 anos, com febre, anasarca, oligúria, diplopia, instabilidade de marcha e cefaléia há 1 mês. Tratado inicialmente com Isoniazida, Rifampicina, Pirazinamida e Etambutol para Tuberculose meníngea e renal devido à proteinorraquia e pleocitose linfocitária em exame liquórico e proteinúria nefrítica em urina de 24 horas. Posteriormente apresentou trombose venosa profunda em membro inferior esquerdo tratada com varfarina (INR entre 2-3). Ainda com febre, anasarca, cefaléia, mialgia, artralgia, náuseas, vômitos, sonolência e pústulas acneiformes faciais e cervicais, foi aventada hipótese de doença reumatológica. Iniciada dexametasona em dose imunossupressora com melhora clínica em 2 semanas. FAN, c-ANCA, p-ANCA, anticardiolipina IgG/IgM e anticoagulante lúpico mostraram-se negativos. Após 5 dias de suspensão do corticóide apresentou febre, náusea, vômitos, diarréia, aftas orais, anemia e edema facial e de membro superior esquerdo. Trombose de Veia Cava Superior confirmada com venografia e varfarina substituída por heparina de baixo peso molecular. O diagnóstico de DB foi firmado por critérios clínicos presentes antes e durante a internação (relatou em anamnese aftas orais dolorosas recorrentes nos últimos 2 anos e distúrbio visual inflamatório vascular com infiltrado algodonoso em exame de fundo de olho realizado havia 10 meses). A dexametasona foi reiniciada associada a azatioprina e o tratamento para tuberculose suspenso. Depois de 10 dias o paciente assintomático teve alta hospitalar.
Não há teste laboratorial que possa firmar o diagnóstico de DB e este é realizado por presença de úlceras orais herpetiformes ou aftosas 3 vezes no último ano associadas a: úlceras genitais recorrentes, uveíte anterior ou posterior, vasculite retiniana, eritema nodoso, pseudofoliculite, lesões papulo-pustulosas ou acneiformes ou positividade no teste de patergia. No relato, a trombose de Veia Cava Superior em vigência de anticoagulação como complicação vascular auxiliou no diagnóstico final, pois os sintomas característicos não foram simultâneos.
Doença de Behçet, trombose venosa, síndrome da veia cava superior.
Clínica Médica
Fundação Santa Casa de Franca - São Paulo - Brasil
Stella Mariana Ferreira Giolo, Maria Clara Melo Cury, Lorena Alves Faria Ribeiro, Cícero Marcolino da Silva Júnior, Wilson Cunha Júnior