Insuficiência Adrenal por Paracoccidioidomicose: evolução rara e diagnóstico complicado
A paracoccidioidomicose é mais frequente na América Latina, sendo uma infecção fúngica crônica de progressão insidiosa e de caráter granulomatoso. A insuficiência adrenal é uma etiologia rara, que ocorre em 5 a 25% dos pacientes com a paracoco disseminada.
Relatar caso de paciente com paracoccidioidomicose e acometimento adrenal com sintoma inicial de hiperpigmentação cutânea.
Estudo qualitativo, observacional, do tipo relato de caso.
L.F., 50 anos, masculino, natural de Apucarana – PR, residente na zona rural de União Bandeirante – RO, lavrador, tabagista (carga tabágica 10 anos-maço), etilista abstêmio há 10 anos. Iniciou quadro de hiperpigmentação cutânea há 2 anos. Ao exame físico: desidratado (2+/4+), hiperpigmentação cutânea em todo corpo, dor à palpação profunda do abdome em regiões epigástrica e hipocôndrio direito, fígado palpável 2cm do rebordo costal. Diagnosticado com paracoccidioidomicose crônica multifocal há 10 anos por meio de biópsia de lesão de cavidade oral, descontinuou o tratamento duas vezes, há 7 e 5 anos. Faz tratamento de hepatite B crônica inativa. Evoluiu com episódios de hipotensão, foi internado. Para investigação diagnóstica: exames laboratoriais: ureia 90mg/dL, sódio 124,5mEq/L, potássio 6,13mEq/L, CK 417U/L, AST 46U/L, ALT 20U/L, cortisol plasmático 14,75 nmol/L; e de imagem: Tomografia Computadorizada de Abdome: glândula adrenal esquerda com lesão expansiva heterogênea, de contornos lobulados e bem definidos, apresentando múltiplas calcificações amorfas de permeio, adrenal direita com nódulo de mesmas características. Diagnosticado com Síndrome de Addison. Iniciou tratamento com sulfametoxazol 400mg e trimetropin 80mg duas vezes/dia; prednisona 10 mg/dia; recebeu alta hospitalar e orientações para tratamento ambulatorial. Apresentou boa resposta terapêutica, em acompanhamento no ambulatório de hepatites e endocrinologista.
Faz-se necessário diagnóstico precoce da insuficiência adrenal em pacientes de áreas endêmicas da micose para evitar maiores danos às adrenais e diminuir o tempo de tratamento hormonal. Entretanto, o diagnóstico não é simples, passando o paciente por diversos especialistas. Um dos motivos é a falta de conhecimento médico sobre o quadro clínico e os achados em exames complementares, que se faz mister em áreas endêmicas, devendo o diagnóstico ser sempre considerado para amenizar danos ao paciente.
Paracoccidioidomicose, Insuficiência Adrenal e Síndrome de Addison
Clínica Médica
Moisés Samuel Gonçalves Oliveira, Daniela Iwakiri Matias, Fabiana Oliveira Souza, Walesca Ferraz Agustini, Lourdes Maria Pinheiro Borzacov