Falha terapêutica: relato de caso de adolescente HIV positivo por transmissão vertical em tratamento regular com antirretrovirais, apresentando resistência viral evidenciada em genotipagem.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é altamente polimórfico em virtude de sua alta taxa de replicação, alta pressão seletiva pelo tratamento antirretroviral (TARV) e pelos erros da transcriptase reversa. Diante disto, um dos motivos para a ocorrência de falha terapêutica no TARV pode ser uma mutação viral, o que pode tornar o uso de determinadas classes medicamentosas inviável, contribuindo com a manutenção da carga viral (CV), falha imunológica e progressão da doença.
Relatar um caso de falha terapêutica por resistência viral em um adolescente soropositivo por transmissão vertical em uso regular de TARV, no qual o exame de genotipagem foi fundamental.
Relato de caso de paciente HIV positivo, por transmissão vertical, com análise crítica das condutas nos ambulatórios pediátrico e adulto, com base na revisão de prontuário.
Paciente HIV positivo, por transmissão vertical, iniciou TARV aos 8 meses de vida. Antes dos 2 anos de idade já apresentou falha virológica, pela manutenção da CV elevada, apesar da boa adesão e uso posológico adequado dos antirretrovirais. Foi, então, prescrito um Inibidor de Protease. Depois dos 5 anos de idade, ausentou-se das consultas, voltando a consultar-se regularmente aos 10 anos. A transição ao ambulatório adulto deu-se aos 15 anos, com paciente em tratamento regular com Zidovudina, Lamivudina e Efavirenz. Apesar disso, ainda apresentava CV elevada e constante. Foi solicitado exame de genotipagem que evidenciou provável uso de esquema com monodroga ativa, sendo à classe dos ITRNN (Inibidores não nucleosídeos da trasncriptase reversa) inviável ao tratamento.
As condutas acerca da escolha do TARV, bem como a escolha posológica adequada à idade e identificação da necessidade de uma avaliação de genótipo viral e terapia resgate devem ser realizadas de forma criteriosa, a fim de que a falha virológica seja evitada e os níveis imunológicos adequados sejam mantidos. Nesse contexto, destaca-se a importância do acompanhamento contínuo e regular para o sucesso terapêutico. A CV plasmática detectável, mesmo após 6 meses de uso regular de TARV, é o principal parâmetro para definição de falha à TARV. O exame de genotipagem demonstra se há uma resistência viral, podendo evidenciar a necessidade de uma terapia resgate. Para os casos em que se identifica provável esquema de monodroga ativa, a terapia resgate com Inibidores de Integrase, como o Raltegravir, se justifica.
HIV; mutação; genotipagem.
Clínica Médica
Luiza Soster Lizott, Tamires Farina Menegat, Julio Massuo Makimori, Henrique Almeida Friedrich, Pablo Sebastian Velho