PANICULITE MESENTÉRICA COMO CAUSA DE DOR ABDOMINAL CRÔNICA - RELATO DE CASO
A paniculite mesentérica é uma doença fibrótica e inflamatória de etiologia incerta, com processo inflamatório crônico do tecido adiposo mesentérico e necrose gordurosa. A clínica relaciona-se à inflamação e ao efeito de massa, sendo a dor recorrente e progressiva. A tomografia computadorizada (TC) auxilia o diagnóstico, a avaliação da doença e a conduta, havendo correlação dos dados tomográficos com a histopatologia.
Relatar caso clínico de paciente com paniculite mesentérica e posterior tratamento.
As informações deste trabalho foram obtidas com revisão de prontuário e análise de exames de imagem.
Mulher, 75 anos, há 8 meses com sensação de massas abdominais associada à dor, com piora progressiva e exacerbação nas últimas 2 semanas. Na consulta apresenta dor intensa, com períodos de regressão, sem relação à alimentação, posição ou repouso. Nega sintomas dispépticos. Portadora de Hipertensão Arterial Sistêmica, Hipotireoidismo e Hemiparesia à direita pós acidente vascular encefálico. Em uso de Clopidogrel, Nitrendipino, Atorvastatina, Levotiroxina, AAS, Omeprazol, Valsartana, Hidroclortiazida e para o quadro álgico Nortriptilina 10mg, Pregabalina 75mg, Tramadol 50mg 2 vezes/dia e diazepam 10mg. Exame físico: fácies de sofrimento agudo e dor, mucosas coradas e hidratadas, anictérica e afebril. Ritmo cardíaco irregular, 2 tempos, normopressórica. Abdôme globoso, flácido, indolor à palpação superficial e profunda, sem massas ou visceromegalias, ruídos presentes. Solicitados exames laboratorias, TC abdominal, suspensa nortriptilina, atorvastatina e pregabalina e iniciado Citalopram 20mg. No retorno, manteve quadro álgico. Hormônio Tireoestimulante 8,39mg/dl e Vitamina D3 21ng/ml. TC sugestiva de paniculite mesentérica. Demais exames sem alterações. A realização de laparotomia exploradora foi descartada pelo risco cirúrgico alto da paciente. Iniciou-se predinisona 5mg, e após 10 dias houve melhora do quadro álgico com retirada do Tramadol. Após 30 dias paciente relatou somente 1 episódio de dor forte. Após 60 e 90 dias paciente sem queixas álgicas e manutenção do tratamento.
Avaliar quadros de dor abdominal envolve inúmeras possibilidades diagnósticas. Quadros raros, como a paniculite mesentérica, podem ter o diagnóstico atrasado por mascarar o quadro álgico com o uso de diversas medicações. A impossibilidade da realização do histopatológico justifica o início da terapia medicamentosa baseada na clínica da paciente, podendo haver melhora o quadro.
Paniculite mesentérica, dor abdominal, inflamação.
Clínica Médica
Silvia Machado de Souto Goulart, Gabriel Cipriano Vidal Heluany, Claudia Cipriano Vidal Heluany