Relato de caso: Criptococose cutânea em paciente com lúpus eritematoso sistêmico usuário de corticoide.
Criptococose é uma infecção fúngica de natureza sistêmica, cuja forma cutânea primária é rara. A doença tem sido diagnosticada em indivíduos portadores de imunodeficiência, sendo rara na ausência de comprometimento da imunidade.
Descrever um caso de criptococose cutânea primária (CCP) em indivíduo do sexo masculino portador de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) em uso de corticoterapia.
Relato de caso com informações colhidas em prontuário.
Paciente de 43 anos, com diagnóstico de LES há 19, em uso de corticoterapia desde então. Três meses antes da admissão, apresentou quadro de lesões bolhosas em face lateral de membro inferior direito, sem resposta ao uso de antimicrobianos. Evoluiu para lesões ulceradas e dolorosas, de bordos pouco delimitados, fundo granular, e exsudação de material serossanguinolento. Não havia outras lesões cutâneas ou evidência de atividade do LES. O exame anatomo-patológico da lesão inicial e da borda da úlcera evidenciou criptococose, com leveduras na derme, fracamente coradas pelo hematoxilina-eosina (HE), e estrutura capsular evidente após coloração mucicarmin, presença de células gigantes e infiltrado linfo-plasmocitário. Exame micológico identificou leveduras encapsuladas com membrana de duplo contorno e realce pela tinta da China. Iniciado tratamento com anfotericina B, 1 mg/kg/d por 14 dias, seguido por fluconazol 400 mg/d. O paciente está no 4º mês de fluconazol, com melhora parcial da lesão.
Criptococose cutânea geralmente é secundária à disseminação hematogênica de uma doença sistêmica grave, ocorrendo em até 10-15% dos casos de criptococose sistêmica. Para ser classificada como CCP, deve preencher os seguintes critérios: lesões exclusivamente cutâneas, identificação do C. neoformans em análise de fragmento da biópsia de pele, ou pela cultura, bem como ausência de evidência de envolvimento sistêmico. Critérios adicionais: lesões em áreas expostas e história de exposição a trauma com possível fonte contaminante.O diagnóstico inclui quadro clínico, histopatologia, exame micológico e imunologia.
A recomendação da Infectious Disease Society of America para pacientes com doença localizada e sem acometimento de sistema nervoso central é terapia com imidazólicos via oral por 6-12 meses. Imunossuprimidos devem ser tratados da mesma forma que os com acometimento de SNC: terapia de indução com anfotericina B associado ou não à flucitosina e manutenção com fluconazol, sem consenso quanto à duração dessa etapa.
criptococose, cutânea, dermatologia, lúpus, imunossupressão, corticoterapia
Clínica Médica
Hospital das Clínicas UFPE - Pernambuco - Brasil
Amanda Medeiros Vieira Almeida, Flávia Andreza Santos Martins, Josemir Belo Santos, Pedro Alves Cruz Gouveia, Camilla Maria Alencar Saraiva