CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA COM DERRAME PERICÁRDICO AGRAVADA POR INFECÇÃO POR EPSTEIN-BARR VÍRUS, UM RELATO DE CASO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
A Amazônia é considerada endêmica para doença de Chagas (DC). Em 1969, Shaw et al, relatou em Belém do Pará, três casos detectados simultaneamente, na mesma residência e na ausência de triatomíneos antropofílicos domiciliares, sugerindo a possibilidade de transmissão por via oral, a partir da contaminação alimentar com fezes de barbeiro infectado. O acometimento cardíaco da DC é bem descrito, manifestando-se com alterações do ritmo, miocardiopatia dilatada e tromboembolia, no entanto a apresentação com derrame pericárdico moderado torna-se rara. A mononucleose infecciosa (MI), afeta jovens entre 15-25 anos e geralmente é benigna, porém há relatos de indivíduos cronicamente infectados que apresentam depleção de linfócito T. A coinfecção de DC com MI representa um agravo.
Relatar caso de DC aguda agravada por infecção MI cursando com derrame pericárdico moderado, forma de apresentação rara.
Relato de caso de paciente internado em hospital de Belém-Pará com descrição de sua rara forma de apresentação clínica, método diagnóstico e tratamento.
Homem, 27 anos, paraense, há 13 dias com quadro de febre alta, cervicalgia intensa, dor retro-orbitária e edema de face e membros e mialgia. Há 6 dias evoluiu com hematêmese de grande volume. Relata injesta diária de açaí. Nega etilismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas. Ao exame: bom estado geral, taquicárdico (130bpm), febril (38,3ºC), eupneico, ausculta cardíaca e pulmonar normais. Abdome doloroso em epigastro, sem visceromegalias. Trouxe endoscopia digestiva alta com úlcera gástrica pré-pilórica de 7mm. Evoluiu durante com febre, mialgia e hipofonese de bulhas cardíacas. Ecocardiograma com fração de ejeção de 71%, derrame pericárdico importante (800ml), com grande espaço ecolucente envolvendo o ápice do ventrículo esquerdo e toda a parede ântero-lateral até a junção atrioventricular e cavidades direitas. Eletrocardiograma com ritmo sinusal, baixa voltagem e QRS com baixa amplitude. VHS:76,2; PCR:50; Hb:7,6; linfocitose (61%), neutropenia (24%). Sororologia para DC IgM e IgG positiva 1/160, anticorpo IgM para EBV reagente: 35,5U/ml. Iniciado tratamento com Benznidazol, realizado drenagem pericárdica.
A co-infecção DC com MI é rara, constituindo agravo na evolução da doença. A manifestação cardíaca na DC com derrame pericárdico moderado é outro aspecto que chama a atenção dos profissionais de saúde, para diagnóstico e tratamento precoce.
doença de chagas; derrame pericárdico; mononucleose infecciosa
Clínica Médica
Juliana Matos Pessoa, Larice Assef Bastos, Yandra Sherring Einecke, Isaías Burlamarqui de Morais Junior , Ana Gabriela Moraes Tupiassú