Angioedema intestinal: causa pouco diagnosticada de dor abdominal recorrente
Angioedema representa um edema auto-limitado, localizado na pele ou na mucosa de tecidos, que resulta do extravasamento de fluidos no interstício devido a perda de integridade vascular. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina representam a principal causa de angioedema induzido por fármacos. A forma de apresentação visceral é rara e por isso, pouco diagnosticada.
Descrever uma forma atípica de apresentação de angioedema em uma paciente com dor abdominal recorrente em uso de inibidor da enzima conversora de angiotensina.
Relato de caso clínico.
Paciente do sexo feminino, instrumentadora, natural do Rio de Janeiro, portadora de Hipertensão Arterial Sistêmica e Hipotireoidismo, fazendo uso de Ramipril 5 mg/dia, Indapamida 1,5 mg/dia e Levotiroxina 25 mcg/dia há 2 anos. Relatava alergia a látex, esparadrapo e Tenoxicam. Procurou atendimento na emergência com queixa de “dor abdominal”. Relata há três meses apresentar dor abdominal difusa em cólica de forma intermitente, associada à distensão abdominal, náuseas e vômitos, seguida horas depois de episódio de evacuação pastosa. Relata que tais sintomas se iniciam subitamente, perduram por três dias em média e possuem resolução espontânea. Nega quaisquer outros sintomas. Exame físico direcionado à admissão: PA= 100x60 mmHg, FC= 105 bpm, afebril, abdome doloroso à palpação difusa, mais intensa em quadrantes superiores. Exames laboratoriais sugeriram sinais de desidratação, sem outras alterações. Tomografia Computadorizada de abdome evidenciava moderada quantidade de líquido livre em abdome, moderada distensão líquida de alças de delgado, sobretudo jejuno, associada a espessamento parietal e realce predominante de sua camada mucosa pelo meio de contraste. Foi sugerido o diagnóstico de angioedema intestinal devido aos achados radiológicos e associação com uso de inibidor de enzima conversora. Após a suspensão do Ramipril foi realizado seguimento do quadro e a paciente permaneceu assintomática, sem novas manifestações.
Este caso demonstra a importância de manter-se elevado índice de suspeição no diagnóstico diferencial de abdome agudo e/ou dor abdominal recorrente em pacientes em uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina. O diagnóstico é clínico e esta é uma forma incomum de apresentação. Achados radiológicos de espessamento parietal, especialmente em intestino delgado e a presença de líquido livre em cavidade são os mais frequentemente encontrados.
angioedema; angioedema intestinal; inibidores da enzima conversora de angiotensina
Clínica Médica
Hospital Barra D´or - Rio de Janeiro - Brasil
Julia Gama Costábile, Paulo Artur Moreira Ribeiro Guimarães, Maria Eduarda Soggia, Fernando Moura Juncá, Debora Silveira Motta Oliveira