Isquemia mesentérica crônica: diagnóstico e tratamento com sucesso - relato de 2 casos
Introdução: A isquemia intestinal apresenta alta taxa de morbimortalidade, sendo dividida em colite isquêmica, isquemia mesentérica crônica (IMC) e aguda. A IMC tem como etiologia mais comum a aterosclerose e manifesta-se por dor abdominal pós prandial, progressiva, podendo haver perda ponderal. O exame físico costuma ser normal, todavia, é possível auscultar um sopro na região epigástrica. O principal limitante para seu tratamento é o subdiagnóstico.
Objetivos: Relatar 2 casos de IMC abordados com sucesso.
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Caso 1: JT, 65, masculino, tabagista 46 maços/ano, hipertenso há 17 anos, portador de trombocitemia essencial em tratamento com hidroxiuréia, renal crônico em hemodiálise; 3 anos após o início da terapia renal substitutiva, apresentou dor abdominal contínua e de forte intensidade, no hipogástrio, ao final das sessões, não associada a vômitos ou diarréia, que motivou investigação inicial com exames clínicos, endoscópicos e tomográficos, que não foram diagnósticos. Decidido então por arteriografia, visto que a dor surgia no momento de menor volemia, o que suscitou a hipótese de componente hemodinâmico/vascular na etiologia. Evidenciada oclusão do tronco celíaco (TC); obstrução de 95% ostial e proximal da artéria mesentérica superior (AMS), com enchimento do TC por colaterais. Caso 2: AM, 82, feminino, hipertensão de longa data, emagrecimento gradual (±20kg) nos últimos 12 meses e dor mesogástrica pós alimentar, associada a anorexia e distensão abdominal. Ao exame físico, sopro epigástrico 4+/6+. Pressão arterial sistólica apresentava diferença de 20mmHg entre os membros superiores. Relatava ainda exame prévio evidenciando ateromatose carotídea. Submetida a extensa investigação clínica, laboratorial e exames de imagem do tórax, abdome e pelve, além de exames endoscópicos alto e baixo para investigação da síndrome consumptiva, sem evidências de anormalidades. Decidiu-se por angiotomografia da aorta abdominal e ramos mesentéricos, que evidenciou oclusão do TC e AMS; a artéria mesentérica inferior apresentava ateromatose discreta. Indicada arteriografia que confirmou os aspectos acima. Nos dois casos foi realizada angioplastia mesentérica percutânea, seguida de stent, com sucesso angiográfico imediato e clínico completo (resolução da dor). A paciente do caso 2 recuperou 7kg nos 3 meses após a intervenção.
Conclusão: A IMC tem apresentação clínica diversa e consequente subdiagnóstico e o sucesso do tratamento depende da detecção e abordagem precoces.
Clínica Médica
Faculdade de Medicina de Campos - Rio de Janeiro - Brasil
Roberta Peixoto Gava, Bárbara Muniz de Souza Cruz, Marcelo Montebello Lemos