Relato de Caso: Pulmão da Amiodarona
A amiodarona acumula-se no pulmão em grande parte nos macrófagos e pneumócitos do tipo 2. A doença intersticial é droga-induzida, podendo desenvolver-se desde alguns dias após a dose inicial até muitos anos de tratamento. Os sintomas clínicos podem oscilar de tosse seca e discreta dispnéia até insuficiência respiratória clássica, sendo o cansaço aos esforços o quadro clínico predominante. A progressão para fibrose pulmonar é irreversível e ocorre em 30% dos casos.
Identificar a pneumonia em organização induzida por amiodarona nos diagnósticos diferenciais de pacientes que se apresentam com dispneia.
MVF, 56 anos, sexo feminino, portadora de doença pulmonar obstrutiva crônica grau I e fibrilação atrial paroxística e valvopatia mitral de etiologia reumática. Fazia uso regular de: losartana (50 mg por dia), AAS (100 mg por dia) e amiodarona (200 mg por dia). Admitida no hospital Belo Horizonte com relato de tosse seca, dispneia progressiva, evoluindo aos mínimos esforços. Exame físico evidenciando ritmo cardíaco regular com sopro sistólico grau II/VI, taquicardia e taquipnéia. Aparelho respiratório com murmúrio vesicular diminuído difusamente, sem ruídos adventícios.
Exames laboratoriais sem critérios infecciosos, radiografia de tórax evidenciou opacidades heterogêneas difusas, predominando em bases e confluentes. Internada para extensão de propedêutica, onde foi descartada descompensação cardíaca. Tomografia de tórax de alta resolução evidenciou doença broncopulmonar obstrutiva crônica com enfisema centrolobular, além de áreas de opacificação em vidro fosco com retração do parênquima e ectasias brônquicas sugestivas de bronquiolite obliterante com pneumonia em organização. A suspeita de doença pulmonar induzida por amiodarona foi confirmada posteriormente em biópsia transbrônquica. Realizada substituição da amiodarona pela propafenona (300 mg de 12/12h) e iniciado prednisona (40mg por dia), com excelente resposta clínica e radiológica ao tratamento instituído.
A pneumonia em organização pode levar a dispnéia com potencial de evolução para síndrome do desconforto respiratório agudo. Uma das prováveis etiologias é droga-induzida, sendo a amiodarona responsável por toxicidade pulmonar em cerca de 5 a 7% dos pacientes. Existe maior correlação com a dose cumulativa total do que com nível sérico da droga, sendo assim deve ser lembrada como etiologia nos pacientes com dispneia que fazem uso dessa medicação.
Clínica Médica
Vivian Domingos Feliciano, Bruna Maria Melo Mota , Leandro Souza Maia, Camila Fioravanti Figueiredo, Marina Bicalho Martins Ferreira